susan boyle

Acabei de ler este texto e amei!
Vale a pena ler e reler......


SUSAN BOYLE E O ELO PERDIDO
© Mario Personahttp://www.mariopersona.com.br/cafe/archives/00000250.htm

Das duas, uma: ou aquela figura neandertalesca, de cabelosdesgrenhados e olhos miúdos entre sobrancelhas cerradas e maçãssalientes, é uma pegadinha, ou o programa "Britain's Got Talent"acaba de encontrar o elo perdido.

Das duas, nenhuma. Aquela caricatura de mulher é Susan Boyle e suapresença no palco abre um tonel de zombarias. Quando Susan revelaseu sonho de ser cantora profissional, como a canadense Ellen Page,com metade da sua idade e um terço do seu peso, a plateia debocha.No júri, a atriz Amanda Holden, emoldurada pelo cético Piers Morgan e pelo acético Simon Cowell, se esforça para fazer caraneutra de paisagem, mas seu belo rosto parece dizer: "Isso vai serdivertido". Pelo menos até a voz de Susan acentar os primeirosacordes de "I dreamed a dream". Aí o queixo de Amanda cai,literalmente.

A platéia vai ao delírio. Em poucos dias Susan Boyle é vista maisde cem milhões de vezes no Youtube e muito mais na mídia global. Otítulo da obra de Victor Hugo, "Os miseráveis", que a canção evocaé emblemático.

Susan Boyle é uma miserável cantando para miseráveis. Feia,deficiente e sem jamais ter tido um namorado, ela é tudo aquilo quenenhum de nós gostaria de ser, mas somos. Quando começa a cantar,porém, até Amanda Holden quer ser Susan. Ela aplaude de pé, e ojogo de câmeras contrasta o seu corpo esguio com a silhueta decanhão que ribomba no palco.

Talvez o correto não seja dizer que 'somos' miseráveis, mas simque 'estamos' miseráveis, do mesmo modo que hoje Susan 'está' feiae Amanda 'está' linda. Em cinquenta anos o corpo de Amanda, hojesensual, também será canhão, e sua pele, agora de pêssego, setransformará num maracujá de gaveta. Os miseráveis no júri e naplateia aplaudem porque torcem por Susan e por si mesmos,igualmente carentes de amor e perfeição, ainda que sob diferentescamadas cosméticas.

Estranho ser, esse humano! Almejamos padrões de bondade, justiça e beleza que sempre estão muito acima do que podemos alcançar. Deonde será que vem isso? Vivemos na terra, mas de olho nas estrelas,porque trazemos em nós um sentimento de infinitude. É como se Deustivesse plantado a eternidade em nossos corações. Se é que nãoplantou.

O paradoxo, porém, é que esse mesmo humano, capaz de proezas dotalento e do pensamento infinitamente superiores a qualquer outroser vivo, também é capaz de atrocidades nunca vistas na maismedonha fera irracional. Matamos nossos filhos para comê-los nojantar, mas também criamos um número infinito de filigranas apartir das mesmas e perfeitas sete notas musicais, como Susan fazno palco.

E ao cantar, ela nos lembra de que existe no humano uma dignidade além do que aparentamos ser. Trata-se do sopro divino, algo quenenhum animal recebeu. Por isso Deus não desistiu de sua criação equis Se revelar em humanidade numa Pessoa perfeita, Jesus, aindaque miserável em sua tez exterior.É por isso que torcemos por Susan Boyle, como quem torce pela Ferada Bela, pelo Corcunda de Notre Dame e pelo Frodo dos pés peludosde "O Senhor dos Anéis", vivendo sob a contínua tentação do anel.

Nós nos identificamos com heróis fracassados porque acreditamos queainda podemos ser amados, resgatados e transformados destamiserável condição. É como se sentíssemos saudade do Paraíso.Susan Boyle não é o elo perdido. Ela apenas revelou que o eloexiste, mas não com algum símio ancestral. Sob aquela semelhançafeia, miserável e transitória foi possível ver um ser criado àimagem de Deus. Quem estava no palco não era uma pessoa estranha.

Naquele palco eu vi a mim mesmo, como Deus me vê e me ama. E tambémvi você.

---Mario Persona www.mariopersona.com.br é escritor, palestrante e consultor de comunicação e marketing.

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